Parêntese

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Quando não transborda é difícil escrever. Quando não é vazamento, quando é quadrado. Talvez só meus textos passionais sirvam de algo, mesmo que seja apenas me esvaziar. Não tenho bem um raciocínio certo sobre minhas linhas tortas e embora quisesse saber falar bonito, só sei soar como eu mesma, o que implica num léxico meio limitado. Sei que posso parecer confusa, mas é por só saber escrever quando é avalanche e avalanches não são muito controláveis. Vira tudo um fluxo bagunçado que eu tento fazer ter sentido. Acho que começo, meio e fim nem são assim tão interessantes, a graça de verdade está em tentar entender quando se falta um pedaço. Histórias contadas inteiras e detalhadas só servem de algo quando se mostram incompletas. O verdadeiro objetivo de uma história é ser contada, afinal. São tantas as histórias a serem contadas, vividas, lembradas... Espero que no fim não fiquem presas em mim, sem ter para onde ir, sem ter quem fazer sentir. Talvez essa seja a real graça de viver, escrever e ser, saber que pelo menos uma parte de tudo não vai ficar presa em você, vai ser lembrada e revivida A memória é algo engraçado, uma espécie de universo paralelo onde os momentos se repetem infinitamente em sua grandiosidade. Embora acabem se modificando com o tempo, não deixam de existir e ter essa magia de parecerem imutáveis. Talvez a grande graça de existir seja só poder viver tudo uma vez. Clichê, eu sei, mas é preciso admirar a beleza da singularidade temporal. Alguns momentos são tão bons que dói lembrar que se transformaram em memórias e de lá não mais sairão, mas se pudéssemos revivê-los ilimitadamente, talvez perdessem o brilho, ou só não fossem tão especiais quanto são por terem deixado de existir. Essa é uma questão relativa, admito, não sei bem qual meu conceito de existência para definir quando algo se enquadra ou não nele. Essa questão toda de consciência e percepção é bem engraçada, inclusive, já que não conheço termo melhor para defini-la, acaba gerando um daqueles nós absurdos de cabelo, mas na nossa cabeça. Memória, tempo, percepção, consciência... Tudo muito engraçado, muito indefinível. Talvez devesse controlar um pouco mais esses meus devaneios e vícios de linguagem, ambos tão particulares de mim.