Sobre Inspiração aka Meu Discurso de Formatura

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Tentei,  algumas dezenas de vezes, colocar em palavras aquilo que se passa na minha cabeça agora. Li, reli, deletei e reescrevi palavras vagas em busca de algo que pudesse ser considerado um bom discurso de formatura não clichê. Me empenhei um pouco menos do que devia, no início, porém conforme o prazo foi apertando percebi o quanto era importante que eu começasse logo à escrevê-lo. Decidi, então, definir um tema para que ficasse mais fácil direcionar minhas idéias confusas e, acredite ou não, este me apareceu durante o banho: inspiração. Palavra não muito longa, nem muito curta, bonita fonética e graficamente, porém motivo de minha insônia e com certeza a de outras milhares de pessoas. É tão difícil conseguir manter aquilo que ela realmente significa...
Para iniciar gostaria de lembrar de cerca de vinte meses atrás, quando fui transferida, fato que fez com que minha vida mudasse completamente e com que eu me adaptasse à uma nova e desconhecida rotina. No começo devo admitir que não me agradava nem um pouco, estava cercada pelo meu próprio desgosto, saudades e nostalgia, tratando com descaso e ignorância as poucas chances que tinha de fazer com que minha vida melhorasse de novo.  Fiquei presa à pessoas que logo se esqueceram de mim e vivia de memórias repetidas, esquecendo de aproveitar tudo aquilo que tinha ao meu redor.  Posso chamar esta de a fase um, onde a inspiração eram memórias e momentos monótonos.
Logo um novo ano chegou e com ele me desfiz de expectativas, surpreendendo-me com a tal desfeita de virada de ano que revelou-se a melhor ação que eu poderia ter tomado, sem expectativas tudo me parecia único e animador, e essa é a chamada fase dois, onde a inspiração eram surpresas e experiências novas, mas na qual eu ainda tinha um pouco daquele bloqueio contra as pessoas.
Finalmente, chegamos à terceira e última fase, onde o segundo semestre deste ano conseguiu passar de estranhamente comum para brilhante em apenas algumas semanas. Pode ter sido a visualização de como vai ser não vê-los mais todos os dias, ou as memórias que agora passam repetidamente pela minha cabeça num looping não muito endireitado. Pois de um momento pra outro vocês se tornaram a minha inspiração. Cada professor, aluno, funcionário e até objeto que naquelas salas havia, gravados para sempre dentro de mim com ferro e fogo. Para sempre. Essa foi a nossa história, o nosso nono ano e tanto os momentos bons quanto os ruins ficarão pra sempre dentro de cada um de nós, pois é impossível esquecer de situações tão individuais como as pelas quais passamos. Segredos, mágoas, piadas e momentos que só poderiam ter acontecido conosco.
O futuro? É incerto. Não há como definir certezas, mas visualizo o sucesso em cada um de nós, pois hoje, mais do que nunca, somos, sem querer, as inspirações um dos outros.  E assim, me despeço de um ano e de uma turma surpreendentemente bons, com um aperto no coração e a esperança de que possa para sempre me inspirar neles.

Sobre as lágrimas

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Pode ser que elas cheguem contigo despreparada
Quando teu dia vira de cabeça pra baixo e tu não sabes mais o que fazer
O desespero vai tomando conta de cada célula de teu corpo
"Acalme-se", qualquer um aconselharia, mas está tudo bem
Deixe-a que chore, que chore com vontade
Que chore de corpo e chore de alma
Que chore cada pedaço de tuas mágoas
E deixe que as lágrimas a lavem por completo
Não sinta receio, não sinta vergonha
Sente-se e espere, pois uma hora passa
Elas passam como tudo passa

Sobre o medo

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Não era porque ela queria, ela apenas sentia. Não era programado ou evitável, trazia uma sensação de vazio e um nó na boca do estômago, suas pernas ficavam bambas e seu coração acelerava descompassado, ela perdia o controle de seu próprio corpo e só conseguia pensar naquela situação pela qual passava. Todo e qualquer ruído a irritava, as crianças falando ou as árvores farfalhando, só queria o silêncio e o direito de ficar quieta em seu canto tomada pelo vazio. Era a perspectiva de que poderia acontecer ou o próprio fato em si, ela não sabia, apenas sentia e ia tomando-a por completo. Lentamente já não conseguia mais controlar suas mãos que tremiam ou manter os próprios pés parados. Aquilo não melhoraria até que saísse de lá. O calor foi tomando conta de seu corpo, dos pés ao pescoço, sufocando-a, ela precisava de ar! Precisava sair gritando, correndo, chorando! Mas não podia. Estava presa. Entre quatro paredes, em sua própria cabeça. Poderia tomar posse do medo e transforma-lo em segurança? Não tinha ajuda, não tinha companhia, era apenas ela, sozinha. Respirou fundo, sentiu o ar invadindo seus pulmões por completo e então desistiu, continuou deitada. Não tinha segurança, nunca teria. Apenas o medo. Para sempre.

Sobre assistir filmes e explosões sentimentalistas

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Sabe aquele dia pela manhã quando você simplesmente acorda e acha que fará somente todas as coisas que você faria num dia comum? Aquele dia em que você percebe que conforme aquela manhã, comum, passa, você não só a está transformando numa tão comum quanto todas as outras mas ao mesmo tempo numa tão única quanto qualquer outra nunca poderia ser. Você percebe, naquela manhã, que mesmo tendo reclamado um ano inteiro das pessoas a sua volta, você sabe que vai sentir muita falta delas quando não te-las mais ali. E isso pode não fazer nenhum sentido, sendo colocado agora neste contexto, mas pra mim faz, faz todo o sentido do mundo. É como quando você resolve assistir um filme, numa noite qualquer como aquela manhã, mesmo sabendo que é provável que você durma no meio dele e conforme o filme passa você percebe que você realmente está dormindo no meio dele, mas você não liga de voltar as cenas quatro vezes cada uma só pra poder entender o que ela realmente significa, pois quando um filme é tão bom quanto aquele que você estava de assistindo você simplesmente esquece o fato de estar com sono ou de ter que voltar todas as cenas. Pra mim, a arte é aquilo que tem a magia de te tocar da forma mais profunda e inesperada possível, um filme, um livro ou uma pintura que aparentavam ser tão simples a principio, mas que agora são como uma mão descendo lentamente pelas suas costas, causando arrepios. Uma lágrima é só o que basta pra expressar tudo aquilo que um filme, que eu assisti com sono, foi pra mim numa noite dum dia que pela manhã eu achei que seria tão simples quanto qualquer outro, onde eu não sentiria falta de nenhum daqueles que não me permiti gostar durante todo os outros dias, ou onde eu não assistiria um filme que me faria chorar inexplicavelmente em seus últimos seis minutos, nem onde eu escreveria um texto de madrugada com a absoluta certeza de que provavelmente acordaria no dia seguinte e deletaria por acha-lo o momento de explosão sentimentalista mais inútil da minha existência. Bem agora, às duas e dez da madrugada de uma quinta feira, eu não presto muita atenção naquilo que digito e provavelmente coloco a culpa no sono, mas, no fundo eu sei, que é apenas nesses momentos após um filme, um livro ou qualquer outro tipo de arte que eu chego mais perto de entender quem eu realmente sou. Então, sem saber muito bem qual o real foco desse desabafo, despeço-me com um último conselho. Aproveite mais as coisas simples da vida, para não ter, como eu, um momento de explosão "crioexistencialista" que te faça perder o sono na madrugada de uma quinta-feira.

Sobre não ser somente mais um tijolo no muro

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Certa vez me perguntaram porque eu participo de filantropias. Disseram-me que o que eu faço no dia de alguém é tão pequeno que não muda nada, disseram-me que uma vida ruim não muda por causa de um dia bom. Se for assim acho que perdi a fé nos seres humanos. Ao contrario da maioria, eu valorizo os simples gestos que faço, assim como valorizo pequenos atos concedidos de outros para mim, não acho que o objetivo da vida seja ter um todo perfeitamente feliz e sim vários pequenos momentos de felicidade que realmente valham a pena.
Encare-se no espelho. O que vê? Um indivíduo infeliz? De boa aparência? Ou com um caráter sujo? Quem é você agora? O que está sentindo hoje? Pode ser que amanhã você se olhe de novo e veja um alguém completamente novo e renovado. Essa é uma das melhores coisas no homem, mudar e mudar mas nunca deixar de ser o mesmo. Apesar de tudo, há algo que nunca muda: suas lembranças. Quando foi a última vez que fez algo bom? Hoje durante a manhã ou há alguns meses? Saiba que quantidade não é tão considerável quando comparada à qualidade. Quantos sorrisos você provocou nas últimas semanas? Foram sorrisos sinceros ou provenientes de piadas sujas? Você está de bem consigo mesmo ou não consegue se encarar no espelho sem lembrar da última vez em que fez alguém chorar? Uma das maiores curiosidades que tenho é entender como o ser humano consegue ser tão complexo e absurdamente simples ao mesmo tempo. Não acho que um dia entenderei nem metade dessa complexabilidade, continuarei acordando dia após dia sem entender muito bem o propósito de vida de muitas pessoas, tal como aquele que um dia me fez tal pergunta sobre o gesto de ajudar. Caso fosse você em situação difícil, um dia bom não mudaria, pelo menos um pouco, a sua semana? Um abraço ou um sorriso sincero não tem o poder de desfazer um pouco de sua infelicidade? Peço-te uma coisa: na próxima vez em que estiver chateado sorria para aquele que passa por você na rua. Seu dia pode estar terrível, mas um simples sorriso pode mudar o dia daquele que passa e consequentemente porque não mudar o seu também? Peça um abraço à seu melhor amigo ou distribua abraços para estranhos, mas nunca deixe de valorizar o poder de um simples abraço.
Então, digo com certeza, eu não me contento em ser apenas mais um robô que acorda pela manhã e segue sua rotina como se a vida não valesse a pena, eu quero mais do que apena a insignificância de todos os dias, eu quero tragédias seguidas de amor, quero brigas seguidas de abraços e quero mudar o dia de quantas pessoas estiverem ao meu alcance, afinal todos morreremos mais cedo ou mais tarde e só o que nos resta é tentar aproveitar ao máximo o tempo que nos foi concedido aqui. Da próxima vez em que achar certas ações insignificantes, pense no quanto um minuto tem o poder de mudar sua vida inteira.

Sobre o Amor

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Ele chega sorrateiro, toma-te pelos calcanhares e migra lentamente até que atinja completamente o ponto mais alto de sua alma. Por alguns é considerado bom, por outros, ruim. Não entendo muito bem o porque de ganhar tanto destaque, costumo vê-lo como um acessório, quando não combina é facilmente dispensável, mas quando acrescenta, faz toda a diferença. É como uma melodia calma e tranquilizante com momentos de pico onde não se pode ouvir nenhum outro som. É como um tabuleiro cheio de possibilidades ou uma folha em branco pronta para ser esculpida, tingida e personalizada como bem entender e assim como as folhas existe em vários tons, tamanhos e formatos, cabe a você decidir qual te atrai mais.
Fisicamente seria mais como um ser de muitas personalidades ou um multifacetado, mas isso não significa que seja falso e sim modelável. "Ele quebrou meu coração" dizia ela, "Não consigo mais dormir a noite!" dizia ele.Ah!O amor... Tão pentelho com suas danças e hábitos saltitantes, abusando de momentos caóticos e calmarias para perturbar suas vítimas, é sim como um vilão, mas um do tipo que ajuda quando lhe convém, um vilão estranho, daqueles possíveis de imaginar mas que nunca foram vistos nem por mim, nem por ninguém.
Como chocolate passa de doce à amargo com poucas modificações e possui sabores diferentes que agradam pessoas diferentes. Também é como fervura, no leite é preciso cuidado para que nada transborde e na água para que nada suma. Desperta a adrenalina, fazendo com que o enfeitiçado queira cada vez mais e mais os efeitos da droga. Apenas te alerto e peço para que tenha cuidado, uma vez viciado quase não há volta para a terra dos desamados e assim, penará para sempre sem o alvo de seus desejo.

Sobre Flores e Voltas

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Ela tinha quinze anos e meio. Nem um dia a mais, nem um dia a menos. Costumava descrever as coisas do jeito menos comum possível, então é justo descreve-la seguindo a mesma linha de raciocínio. Ela gostava de bolhas de sabão e sofás brancos, seus pés era pequenos, sua áurea radiante mas sua organização, praticamente inexistente. Costumava pendurar-se de ponta cabeça no trepa-trepa de seu prédio e tinha um jeito não muito calmo em certos momentos.
"Começou" alguns meses antes dessa data onde quinze anos e meio completavam-se desde seu nascimento. Ela partia de uma casa para outra, de um canto pra outro, de uma família pra outra. Olhando de fora nenhuma dessas afirmações faz muito sentido, mas é como eu expliquei, em seu mundo nada tinha uma lógica muito correta. Esse foi o primeiro fato marcante na linha de sua vida. Creio eu que cada um de nós temos uma linha como essa, um pedaço de arame que dá voltas e voltas, digo isso apenas para que você possa imagina-lo de forma figurativa. Pois bem, o primeiro fato foi uma descida. Fez com que tudo que era bom se transformasse em coisas ruins. Magenta em musgo, tachas em lantejoulas, cintilante em opaco, macio em áspero, ondulado e radiante em liso e sem vida, feito em desfeito, finalizado em confuso… Nada mais fazia sentido.
Eis que surge a primeira flor. Uma rosa tão vermelha quanto o sangue que pulsava em suas próprias veias. Era linda, uma nova e encantadora realidade, de portas abertas para ser explorada. Não causava nenhum tipo de dano visível à ela, que apenas esbanjava-se em rosas e mais rosas e mais rosas… Deitava, rolava, passava noites em claro e tirava delas tudo o que podia e mais um pouco. Ela amava-as tanto que não podia enxergar os arranhões que provocavam por todo seu corpo, dos cabelos que recuperavam o brilho fraco aos dedos de seus pés pequenos. Porém as rosas foram murchando… Murchando… Até perder, quase que por completo, sua essência e sua fragrância.
Quando tudo parecia monótono e acabado a linha resolveu subir novamente, para o topo, tão alto que já não se via mais o solo. Aquele era um crisântemo, tão amarelo quanto um biquíni recém-confeccionado poderia ser. Cheio de alegria, cheio de vida. Tudo o que ela precisava. Logo ela, que havia trazido do momento anterior tantas más experiências de antes das rosas… Logo ela que tinha uma expectativa tão baixa para esse novo momento… Foi logo surpreendida com mais um punhado de flores! Gérberas de um branco tão limpo quanto as nuvens do céu perfeito poderiam ser. Cultivou-as juntas, lado a lado, tomando cuidado para que não se tocassem, para que não causassem atrito. Era feliz sonhando com a distância que os crisântemos lhe passavam, a liberdade, imaginação e vontade que eles transmitiam como numa explosão. Já as gérberas brancas eram tão passionais e delicadas… Era tudo tão fácil de tocar, tão tentador pela facilidade.
Certo dia descuidou-se, e a gérbera branca, que parecia tão passiva e inofensiva, esbarrou no crisântemo que por sua vez desabou em um tombo contínuo. A gérbera estragou tudo. Mas foi escolha da garota, ela sabia, em seu interior, que tinha sido culpa dela. Acomodou-se então com a sobra passiva, que simplesmente não durou nada. Não era natural pra ela. Uma adolescente tão incomum, bagunçada e explosiva, conviver com uma flor tão delicada daquelas. Simplesmente jogou-as fora.
E é aí que chegamos no presente.Sem rosas, nem crisântemos, nem gérberas. Apenas uma menina sem flores, sem causas, sem fatos e sem emoções. Ela espera pela próxima subida, não sabe bem se este está longe ou perto, não sente sua aproximação, nem sua falta. Contentou-se com a calmaria, mas isso não a impede de cercar-se com a nostalgia e a saudade. Acho as duas companheiras saudáveis, porém não sei se a garota sabe administra-las. Espero que sim, ela não é muito de se dar bem com excessos. Concluiu que entre rosas e voltas a vida é uma infinita repetição de altos e baixos, onde não se pode fazer nada para manter-se em cima quando lá está e onde não se pode fazer nada para subir quando em baixo repousa.