Sobre o Sono

  • 10
Eu nunca gostei de dormir. Nunca. Meus pais dizem que muito antes de ter consciência da minha existência, eu já dava problema pra dormir. Meu pai precisava ficar me balançando no escuro enquanto soprava meus olhos, pra que depois de muita insistência, eu finalmente caísse no sono. Hoje as coisas não são assim tao diferentes, a diferença é que meu pai já não tem disponibilidade pra ficar me ninando até que o sono venha, infelizmente.
Se eu pudesse escolher, não dormiria nunca, mas por mais que eu insista, tem uma hora que não da mais pra ficar acordada. Sabe o que seria perfeito? Poder dormir todos os dias depois do sol raiar, tendo passado a noite inteira escrevendo sobre o que quer fosse, pra acordar de novo só as três, ler um livro e assistir um filme antes de sair pra beber com os amigos. Se eu pudesse escolher, esse seria meu futuro e faria realmente valer os três anos gastos com o Ensino Médio (anota aí, deus).
As férias ferraram completamente com meu sono. Passei uma semana inteira indo dormir depois das cinco e achei maravilhoso. Seja escrevendo, ouvindo música ou olhando as luzes apagadas pela sacada, eu só me sinto muito melhor e mais criativa durante a madrugada, o que é até um pouco irônico, já que eu tenho medo de escuro. 
Sabe, esse texto não tem proposito nenhum, a não ser falar sobre minha falta de sono numa sexta feiras às sete horas da manhã, sendo que pra mim ainda é quinta já que eu não fui dormir. Não sigam esse exemplo, crianças. Nunca.

Sobre a Morte

  • 4
Eu nunca tive medo da morte. Eu sempre soube que ela é e sempre vai ser inevitável, mas a maioria das pessoas age como se fosse algo de outro mundo. Talvez seja porque eu nunca tive que lidar com ela diretamente ou porque eu sou "nova demais" pra pensar nisso, mas a morte não respeita idade ou nível de conhecimento, ela simplesmente acontece. Hoje meu pai estava explicando pro meu irmão de nove anos o que era luto e acabou caindo em como foi o luto para ele quando perdeu a mãe. Meu irmão disse que também choraria pelo meu pai se ele morresse, do mesmo jeito que ele fizera após perder sua mãe. Na realidade isso não tem nada demais, mas me surpreendeu ouvir isso de um menino tão novo e com pouca noção do que é a morte, por assim dizer. Eu também não faço ideia do que é a morte, meus pais não sabem, ninguém sabe e acho que é por isso que todos sentem medo dela, pelo menos em algum momento da vida. O ser humano não gosta de lidar com aquilo que não conhece, ele prefere criar desculpas e se alienar das coisas que cercam o tal desconhecido e isso não seria diferente com a morte. Eu não costumo pensar muito na morte ou no que acontece depois dela e nem é por medo, acontece que eu sou visual demais pra tentar imaginar conceitos tão abstratos quanto a morte (e mais cedo ou mais tarde acabaria entrando em uma crise existencial muito maior do que o suportável). Isso acaba sendo mais um dos grandes paradoxos da vida: porque a morte é tão abstrata se acontece o tempo todo e em todos os lugares? Acho que se um dia eu chegar a entender tudo isso, não vou mais poder compartilhar com ninguém, então acho que prefiro não saber, ao menos por enquanto.

Como Ser Feminista

  • 7

  1. Beba uma taça de male tears por dia;
  2. Não se depile;
  3. Saia sem camisa na rua;
  4. Cause polêmica nos jantares em família (e na escola, Facebook, Twitter...);
  5. Pinte os pelos da axila;
  6. Não seja vaidosa
  7. Beije meninas;
  8. Roube sorvete d'uzome;
  9. Não use maquiagem;
  10. Tenha um melhor amigo gay;
  11. Seja "uma vadia";
  12. Não use sutiã ou salto alto;
  13. Seja superior aozomi;
  14. Não se dê o respeito;
  15. Ignore todos os outros ítens dessa lista e qualquer outro que você já tenha ouvido, seja aquilo que você quiser ser, não há regras no feminismo, não existe "pode ou não pode", não é corte de cabelo, vaidade ou sexualidade que vai te definir feminista. É nisso que acreditamos, não queremos a exterminação do sexo oposto nem a ditadura gay, queremos liberdade de expressão e o direito de ser quem e como quisermos. We can do it! 

Eu Vejo Flores em Você

É óbvio que ela não queria admitir, mas talvez tivesse exagerado um pouquinho na dose. Aquele salão enorme que se estendia ao seu redor pulsava exatamente no mesmo ritmo de suas veias: forte, entrecortado, causando manchas em sua visão dum modo em que ela nem conseguia mais distinguir qual forma era qual porque tudo se fundia em curvas e espirais... Gargalhou. Olhou para a esquerda, depois para a direita, todos os seus sentidos pareciam estar funcionando cinquenta vezes melhor do que seria adequado para a sobrevivência.  A música ecoava de todos os lados, dava pra sentir o som se fundindo ao cheiro de maconha que se parecia muitíssimo com a temperatura da parede. Ela olhou para cima, depois pra baixo, quem era aquela deitada em seu colo, mesmo? Mary, Gaby, Ellie, Effy... Olhou para frente, só enxergava corpos, dezenas deles, movimentando-se como um só, um grande órgão multicolorido formado por suor e desejo de tom meio arroxeado, sem nem um quê de desbotado. Ela achou aquilo tudo bem engraçado, estava tudo bastante engraçado na verdade. A garota no seu colo tinha uma voz muito, muito aguda e murmurava loucamente de olhos fechados, rindo tanto quanto ela. Não dava pra entender nadinha, nem uma palavra... Era hilário, porque tantos insetos voavam por ali, mesmo? Ela daria qualquer coisa pra entender aquilo e o porquê de as vozes parecerem mais altas do que a música. Lembrou de sua vizinha, ela ia adorar tudo aquilo, todas aquelas cores, aquele barulho, aquele cheiro... O riso não saía de seus lábios, mas que sensação esquisita! Definiu que era assim que um unicórnio se sentia, com certeza era assim. Ela gostava de ser um unicórnio. 

Em Outros Braços

  • 2
Ele perdera a noção da hora, como sempre. Olhou para os lados atordoado após perceber que caíra no sono, seu pescoço doía de forma estranha e ele sentia o torcicolo em potencial que vinha se formando aos poucos durante todas aquelas noites em que dormira no sofá. A TV emitia um chiado estranho e aparentemente sua gata havia desconectado algum dos fios. Ele bocejou e se espreguiçou, sentindo cada articulação de seus braços e dedos reclamando. Talvez fosse um aviso de que era a hora de parar com todo aquele auto punimento inconsciente.
Naquela madrugada chuvosa, em algum lugar do cosmos e todas as suas facetas, eles comemoravam seus quatro anos juntos. Mas era um lugar distante, bem distante, pois em seu “aqui e agora” eles nunca haviam passado tanto tempo sem se falar. Talvez se ele tivesse sido menos insensível, menos indiferente, menos arrogante... Talvez, só talvez, eles ainda estivessem juntos. As coisas se organizavam lentamente em sua cabeça e tudo aquilo que havia sido despejado aos ventos há menos de um mês passava a fazer sentido. A culpa o consumia e se pudesse olhar no espelho para analisar sua própria alma, provavelmente estaria em decomposição. Ele se levantou do sofá amarelo, caminhou até o quarto e agradeceu mentalmente por não ter como enxergar aquilo que sentia.
A verdade é que ele realmente não sabia dar valor à nada nem ninguém. Sua cabeça coçava, as pálpebras pesavam e o Sol começava a nascer trazendo cores nostálgicas para seu lençol. Era essa a sensação de ser trocado, afinal? Era essa a sensação de traição da qual tanto ouvira falar? Deitou-se tentando se convencer de que talvez fosse só sono, mesmo, talvez no dia seguinte passasse. Mas não era assim que a vida funcionava, ela não era movida por expectativa, nunca fora e ele teria que aprender a lidar com aquilo, pelo menos até encontrar outro corpo que se encaixasse tão bem ao seu. 

Início

  • 0
Eu to enjoada de ler e escrever tudo isso que não me interessa. Eu to cansada de ouvir aqueles que nunca vão me entender, eles me veem tão jovem para me opor, me negar, como se não tivesse capacidade para moldar uma opinião, acabo barrada por um número. 
Eu me recuso a achar que a vida é tudo isso que acham que ela é. Eu não quero saber de amor, dinheiro e estudo dentro das suas medidas e cores, eu quero é liberdade pare amar, ter e saber aquilo que eu bem entender, não o que eles entendem. Quero o vento levantando minha saia e a chuva molhando meu rosto nos parques de um município indefinido. Lá fora é tão imenso... Tanto quando aqui dentro. Mas aqui dentro ta meio confuso, acho que é a falta de chuva.
Minha pele continua quente e vem de dentro, como um carro superaquecido, faz com que minha cabeça doa, uma dor grave, grossa, diferente do latejar causado pelo barulho. Sou uma panela de pressão cheia de caldos, aromas, temperos e pedaços que liberam vapores que não tem pra onde ir. Estou prestes a inexplodir. Fazia tempo que eu não me sentia tão bem.