São Bernardo do Campo, 9 de Dezembro de 2015

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Ei você,
Estou até agora tentando entender o que é que aconteceu de tão errado entre nós.
É inevitável que eu procure um culpado e que essa culpa caia imediatamente sobre mim, afinal nós sabemos o que eu fiz. Talvez eu devesse ter sido menos eu, menos você, menos nós. Você tinha tanto medo assim de que eu me apaixonasse? Seria tão mais fácil se você só aceitasse isso também, parasse de se proteger, de me excluir do que você pensava. Eu provavelmente nem cheguei a me apaixonar, era tudo coisa da sua cabeça, mas sabe o que dói mais? Eu estava me acostumando com você. Sua mensagem de bom dia, a forma como sua mão se encaixava ao meu corpo e desviava da minha enquanto andávamos lado a lado, o jeito como eu gostava de te olhar dos diferentes ângulos possíveis e como os seus olhos postos sobre mim me faziam sentir a pessoa mais desejada do mundo. Talvez fosse só tesão, antes fosse só tesão, se você quisesse e definisse que fôssemos só uma trepada, talvez eu não estivesse escrevendo isso aqui, mas a falta de definição nos condenou ao fracasso. Eu não queria te namorar, não queria te amar, eu só te queria, te precisava, te confiava, meu tempo, meu corpo, meu eu. Isso deveria bastar, não é? Mas não bastou, você enjoou e foi tão rápido, nem tive tempo de fazer tudo o que queria, ganhei mais um punhado de promessas não cumpridas (apesar de você nunca ter me prometido nada) e uma interrogação sobre o que teria acontecido se certas coisas fossem diferentes. Eu vou culpar seu signo, seu momento, seu jeitinho, tudo bem, quem sou eu pra procurar estabilidade em um libriano? Tenho certeza de que aí tá bem mais confuso que aqui, só queria que você entendesse isso também ou que aceitasse. Tá foda, viu? Não tenho mais com quem falar de madrugada, de quem esperar uma mensagem no meio da tarde, um convite pra daqui dois dias, uma demonstração de afeto por menor que fosse. Eu tentei ler nas entrelinhas, mas você foi o livro mais difícil que já conheci. Só queria poder voltar atrás pra consertar meus últimos erros, isso provavelmente adiaria a situação por uma semana, mas eu me sentira melhor, menos culpada, menos idiota, menos trocada, não sonharia com você noites seguidas e acordaria decepcionada por saber que nada estava bem. São sempre os mesmo erros, os mesmo defeitos, os mesmos problemas. Me desculpa por isso, tenta guardar a parte boa de antes, tenta não me odiar e saiba que eu vou continuar aqui, sem te gostar, sem te amar, mas com saudades do que foi um dia, de poder confiar em você como nunca confiei em ninguém.
Eu espero que você fique bem, que eu fique bem, que algum dia possamos olhar pra trás e pensar que valeu a pena (porque realmente valeu).
Com carinho,
Você sabe de quem.
Obs: tenho plena consciência de que talvez grande parte do meu ponto de vista tenha sido invenção da minha cabeça, mas isso só contribuiu pra deixar a história mais interessante de ser contada e você sabe como eu valorizo as minhas narrativas